Friday, February 15, 2008

sociologia da familia: industrializacão, urbanizacão e família

INTRODUÇÃO

Segundo Serraceno e Naldini, a família revela-se como um dos lugares privilegiados de construção social da realidade, a partir da construção social dos acontecimentos e relações aparentemente mais naturais. A família é o espaço histórico e simbólico no qual, e a partir do qual, se desenvolve a divisão do trabalho, dos espaços, das competências, dos valores, dos destinos pessoais de homens e mulheres, ainda que isso assuma formas diversas nas várias sociedades.

O presente trabalho, industrializacão, urbanizacão e família, enquadra-se na lógica de procurar através da percepcão destes três termos, perceber qual é a possível relacão que existe entre eles, isto é perceber o impacto da industrialização sobre a urbanização e sobre a família e por sua vez, o possível impacto da familia sobre a industrialização e a urbanização. Que tipo de relação pode-se estabelecer entre estes, em que medida um pode afectar o outro, procurando perceber este aspecto num contexto mais macro, Europeu, no sentido de procurar percebe- lo também num contexto mais micro, caso particular de Moçambique.

Nessa perspectiva, a realização deste estudo obedece a seguinte ordem: no primeiro momento faz-se um breve historial sobre a origem da industrialização, urbanização isto é, no sentido de perceber quais as transformações que cada um desses fenómenos interligados trouxe para a sociedade e para a família em particular; seguidamente temos a relação entre estes três fenómenos, isto é, em que medida um pode afectar o outro; por fim vemos as conclusões que se pode obter em relação ao estudo

Objectivos

Objectivo geral

Analisar como cada um desses fenómenos (a industrialização, urbanização e família) se encontram interligados.

Objectivos específicos

Perceber qual a possível relação que se pode estabelecer entre esses três elementos.

Perceber como essa relação pode ser vista num contexto particular de Moçambique.

Metodologia

A realização deste estudo foi possível através da recolha de material nas bibliotecas da assembleia da república; da faculdade de letras e ciências sociais, da leitura de alguns livros como Serraceno e Naldini, Martine Segalene e..... referir ainda que houve algumas dificuldades para perceber os fenómenos da industrialização, urbanização e família no contexto Moçambicano, devido à escassez de material, o que de certa forma tornou o trabalho desgastante.

Justificativa da escolha do tema

A escolha do tema enquadra-se nas diversas propostas de temas apresentadas pelo docente da cadeira, no sentido de um tema por estudante, isto é, se o tema de preferência já tiver sido escolhido, recorre-se obrigatoriamente a outro tema proposto também pelo docente.

Assim, esta abordagem sobre a industrialização, urbanização e família deve-se primeiramente à necessidade de perceber em termos teóricos como as transformações sociais de certa forma afectam a família;

Segundo, à tentativa de compreender as mudanças ocorridas na família, se de facto o que se verifica a nível global pode incidir sobre o local, família urbana e rural

Terceiro, segundo GOODE (1982) citado por Serraceno e Naldini, a família não é um simples terminal passivo da mudança social, mas um dos agentes sociais que contribuem para definir as formas e os sentidos da própria mudança social, ainda que com diferentes graus de liberdade, conforme as circunstâncias, portanto, há uma necessidade de perceber de que forma podemos olhar a família como um factor capaz de activo da mudança social, factor activo da industrialização urbanização.

conceitualização

Segundo TILLY e SCOTT (1981) citados por Seraceno e Naldini, a industrialização é um fenómeno histórico social complexo surgido no sec. XVIII e XIX, que inclui quer o sistema de fábrica e o trabalho assalariado, quer processos de urbanização, quer inovações tecnológicas no campo da produção, quer a criação de novos grupos, ou classes sociais, quer fenómenos demográficos de amplas dimensões, como as migrações do campo para a cidade, a explosão demográfica, com os seus efeitos sobre a estrutura da população, quer ainda novas formas de divisão de trabalho e novas formas de relações entre os sexos e as gerações.

Urbanização- segundo o dicionário de ciências sociais, teve inicio no sec XVIII em consequência da revolução industrial. Resulta fundamentalmente da transferência de pessoas do meio rural ( campo) para o meio urbano ( cidade). Esta ligado à ideia de concentração de muitas pessoas em um espaço restrito ( a cidade) e na substituição das actividades primárias ( agropecuárias) por actividades secundárias (industriais) e terciárias (serviços). Por se tratar de um processo, costuma-se conceituar urbanização como sendo o aumento da população urbana em relação à população rural, nesse sentido só ocorre urbanização quando o percentual da população urbana é superior o da população rural.

As consequências sociais da urbanização e as mutações socioculturais que dela resultam são difíceis de avaliar isoladamente, já que se encontram ligadas a todo universo técnico e a outros fenómenos tais como a industrialização e a divisão do trabalho social. Unanimente se reconhece, entretanto, que a vida urbana favorece o pluralismo, a individualização dos comportamentos, a prioridade dos grupos secundários ou funcionais em relação aos grupos primários.

Familia- seja qual for a abordagem téorica privilegiada a família é entendida como o espaço histórico e simbólico no qual e a partir do qual, se desenvolve a divisão do trabalho, dos espaços, das competências, dos valores, dos destinos pessoais de pessoas de homens e mulheres, ainda que isso assuma formas diversas nas várias sociedades. A família revela-se como um dos lugares privilegiados da construção social da realidade.

Industrialização, urbanização, família

A família esteve presente ao longo de vários séculos muito antes da industrialização. Segundo OLIVEIRA; et al, tal como a célula é a unidade do corpo orgânico, a família tem sido considerada como a célula fundamental da vida social, a instituição social básica, a partir da qual outras se desenvolveram. Esta, sendo aceite como a mais antiga das instituições sociais humanas apresenta-se, com um carácter universal, embora as formas da vida familiar variem de sociedade para sociedade, de geração para geração.

Na Europa pré industrial, a vida familiar era estruturada segundo dois modelos: o aristocrático e o rural e operário em que, por exemplo na família aristocrática a riqueza baseava-se na propriedade fundiária e a vida familiar girava à volta do consumo e do divertimento e por sua vez, as famílias rurais e operárias eram pelo contrário, unidades produtivas cujos membros trabalhavam na agricultura, na fiacção e na tecelagem.

A passagem da economia agrária à economia industrial atingiu irremediavelmente a família, esta deixou de ser uma unidade de produção onde todos trabalhavam sobre a autoridade de um chefe. O fenómeno industrial, obriga o homem a trabalhar na fábrica po na empresa, este vive absorvido por sua profissão e preocupado com a segurança do seu emprego. A mulher, trabalha muitas vezes fora do lar, sendo que os filhos têm de ser confiados ao infantário,e assim, a família que era a principal escola de socialização e educação dos filhos, quase se dissocia dessas funções. O lar torna-se, muitas vezes, apenas o dormitório de pais e filhos, por vezes, o ponto nocturno do encontro. O lar perdeu inclusivamente, a função recreativa da família, o marido, a mulher e os filhos recream-se fora da casa, vão ao teatro, cinema e nem sempre vão juntos.

A vida industrial e a concentração das fábricas despovoam as aldeias, o homem larga sozinho da aldeia em busca de melhor emprego, e acaba por se afastar mais e masi da família, sendo que os laços familiares afroxam.

A mulher por sua vez, experimenta, na sociedade industrial, iguais oportunidades de trabalho, sai do ambito fechado do lar doméstico, trabalha na fábrica ou no escritório, conquista sentimentos de dignidade e dev indignidade, torna-semenos permeável aos sofrimentos do matrimónio.

As legislações vão igualando formalmente ambos os conjuges , as fraquentes vrises económicas obrigam ]a limitação de nascimentos, muitos casais evitam ter filhos, fugindo ]a sua função geneomonica da família, que ]e a de perpetuar a espécie humana. Já nem se pode dizer que a família seja o suporte de um património, cuja conservação e transmissão se pretende assegurar. A família entrou em profunda crise e desfuncionalizou-se. Segundo ANDREE MICHEK, citado por SERACENO E Naldini, assiste/se [a passagem do modelo tradicional da família para o modelo modernista.

No modelo tradicional da família ]e definido por três elementos, os papeis familiares que estão perfeitamente definidos em funcho de critérios extremamente rígidos, isto ]e, o sexo e a idade. Neste sentido, a mulher esta totalmente dependente do homem; uma vez privada da independência económica, ela perde toda a autonomia psicológica e passa a depender estreitamente do marido na sua subsistência, gerando/se assim uma situação de inferioridade da mulher, e o, correspondente estatuto no lar, que se projecta na vida domestica e afectiva do casal e na própria educação dos filhos. o pai assume a função de autoridade porque senhor do saber e do poder, sobretudo económico, portanto, há uma dicotomia de papeis familiares, cria-se uma mística que atribui ao homem qualidades de superioridade, pela sua inteligência, forca física, coragem e iniciativa, e reduz-se a mulher a situação de simples dona de casa, dependente económica e psicologicamente do marido. O pai marido alcança o carisma de um chefe incontestável. Portanto, a família, ou o casamento e uma instituição, cujos valores e interesses transcendem os dos seus membros ou dos cônjuges, a união afectiva e sexual esta subordinada ao casamento, e o comportamento dos filhos, ao interesse da família. neste modelo, e proibido o divorcio, são interditas as praticas contraceptivas ou abortivas e os filhos, só lá para os 21 anos obtêm a maioridade.

Do modelo tradicional transita-se para o modelo modernista, a noção de papel ligado ao sexo e a idade desaparece, o indivíduo desempenha no lar e na família aqueles papeis porque pode desempenhar todas as suas potencialidades, o papel profissional, o papel domestico e o papel educativo já não se atem ao sexo e a idade. Marido e mulher alternam nesses papéis. Os próprios filhos podem socializar os pais. No que toca a mística familiar, desaparece a superioridade do homem e a inferioridade da mulher, ambos se consideram iguais em direitos e obrigações. neste modelo, já não se vê no casamento e na família uma instituição a que todos se devam sacrificar. Não e o indivíduo que existe para a família e para o casamento, mas e a família e o casamento que existem para o indivíduo, os cônjuges e os membros da família tem o direito moral a felicidade, de modo que os casamentos desastrosos se desfazem, e os filhos, ansiosos de liberdade, cuidam de se desenvencilhar das peias familiares. portanto, no modelo modernista, mo divórcio e largamente permitido e o planeamento familiar não sofre restrições, os filhos beneficiam mais cedo do estatuto de maioridade.

Maria da luz oliveira, etal, texto editora, sociologia, 4ediçao, lisboa 1989 pag247-264

. O fim da família como unidade de produção económica, a baixa da taxa de natalidade, o divórcio, a união livre, a mulher que trabalha fora de casa, os filhos entregues não aos cuidados maternos, mas a jardins de infância e à escola, são alguns dos aspectos reveladores das mudanças ocorridas na família.

A família e a sociedade encontram-se interligadas, ambas variam em conjunto. As mudanças na estrutura e funções da instituição familiar traduzem as mudanças nas outras instituições com as quais está relacionada. A passagem da sociedade agrária «à sociedade industrial foi acompanhada por uma transformação da instituição familiar.

A família extensa, adequada à sociedade tradicional, transformou-se na família nuclear, que melhor corresponde ás características socio-económicas e culturais da sociedade industrial e urbana. A economia industrial afastou da família os papéis e as relações profissionais, pois a produção deslocou-se para a fábrica, para aloja e para o escritório. A família já não se encontra unida pelo trabalho em conjunto uma vez que os seus membros trabalham separadamente. Já não constitui uma unidade de produção económica, antes se transformou numa comunidade consumidora dos bens e serviços produzidos no exterior. A própria família conjugal tornou-se menor, á medida que os processos de industrialização e de urbanização se desenvolveram.

Nas sociedades tradicionais as famílias desejam ter muitos filhos, pois estes são economicamente uteis, trabalhando para o sustento do lar. Para as sociedades industrializadas, as crianças deixam de constituir um bem económico para se tornarem um encargo dispendioso. Os valores da sociedade urbana ( sucesso material, racionalidade, cultivo das artes e do saber, etc) estimulam actividades e interesses fora do circuito familiar e atribuem menor importância ás famílias numerosas. As tarefas educativas passam a ser desempenhadas por outras instituições, de que a escola e os mass media são m exemplos mais significativos. Por outro lado, o ingresso das mulheres no mercado de trabalho operou uma das maiores mudanças na vida familiar, isto é, um emprego remunerado veio aumentar a independência da mulher em relação ao marido; esta nova situação, veio modificar as relações dentro do casamento, a família já não é dominada pela autoridade do homem, mas baseia-se numa relação igualitária entre os cônjuges.

Curiosamente, o ambiente impessoal do mundo urbano tem vindo a aumentar a importância da família, pois ela fornece o apoio emocional e afectivo necessário ao equilíbrio psicológico do indivíduo. a necessidade que os membros da família tem de se unirem mais intimamente é muito mais compatível com as relações igualitárias dentro da família do que com padrões tradicionais de autoridade masculina. Passou-se assim, da a família tradicional, em que o papel de cada membro era fixado pela tradição, costume e, tantas vezes, imposto por lei, para um novo tipo de família, em que os papéis são desempenhados de acordo com os desejos dos seus membros. A família já não se encontra unida pelo trabalho mas por interesses e afeições compartilhados. Este novo tipo de relações conjugais exige maior capacidade de adaptação por parte dos cônjuges, ás necessidades e qualidades pessoais de cada um, pondo assim a família exposta a maiores tensões e conflitos. Nota-se uma maior frequência de famílias separadas e de divórcios

A família ao constituir uma identidade dinâmica, sofre as alterações da sociedade que a rodeia, alterando constantemente a sua estrutura interna. Se a estrutura se altera, as funções da família também se modificam pois as mudanças de uma são causa e efeito de mudanças de outra. A família sofre as alterações da sociedade que a rodeia , tanto na sua estrutura interna, como nas suas funções. Esta, encontra-se num processo contínuo de mutações. o divórcio tornou-se uma prática comum; a autoridade do pai da família declinou, a divisão do trabalho no seio da família alterou-se; os filhos são desde pequenos, entregues aos cuidados de outras instituições. as próprias funções sociais da família foram afectadas pelas recentes mudanças sociais. Esta crise da família tem levado à divulgação de formas de vida familiar alternativas à família nuclear tradicional. A união livre, a vida em comunidade, o casamento aberto ( cada uma das partes tem liberdade de praticar relações sexuais extra conjugais ), a coabitação homossexual, são exemplos dessas formas alternativas.

A família em mudança - as funções da família na sociedade industrial (a estrutura e as funções da família tem vindo a acompanhar a evolução tecnico- cientifico, cultural e económica da sociedade, algumas das funções anteriormente cometidas apenas à família são desempenhadas fora dela )

A função sexual - há uma importância aparentemente crescente do sexo pré e extra matrimonial. esta provavelmente menos confinada à família do que estava no passado recente, pois, a industrialização e a urbanização enfraquecem o controle da família e da comunidade. portanto, há uma importância das relações pre- matrimoniais.

A função reprodutora- tem vindo a perder a sua importância, há uma alteração demográfica, um desejo de limitar a função reprodutora da família; a divulgação do planeamento familiar, a menor dimensão média da família.

Função economia - o processo de industrialização afectou a família em três aspectos, o centro de produção deslocou-se do lar para a fabrica( nas sociedades primitivas a família constituía a unidade económica fundamental, a satisfação das necessidades exigia que os seus membros trabalhassem em conjunto, partilhando o resultado da produção, ); em segundo lugar, a unidade de produção, a fábrica dá emprego ao trabalhador individual e não a toda a família; terceiro, a família continua ser uma «unidade económica», mas as suas actividades de natureza económica modificaram-se substancialmente. Ela é agora a unidade-base de consumo, mas não de produção ou de distribuição, a fábrica produz para o consumo das famílias. portanto, há uma nova dimensão económica da família.

A função de socialização - a socialização da criança já não é função apenas da família, outros agentes de socialização contribuem para a sua efectivação; o novo papel da família que devera ajudar a resolver as tensões a que somos sujeitos, em virtude da multiplicidade de papéis sociais a que somos solicitados a desempenhar na sociedade industrial..

In: compêndio de sociologia Na Europa pré industrial, a vida familiar era estruturada sobretudo segundo dois modelos: o aristocrático e o rural e o operário. Numa família aristocrática, a riqueza baseava-se na propriedade fundiária e a vida familiar girava à volta do consumo e do divertimento. uma parte das famílias rurais e operarias eram pelo contrário, unidades produtivas, cujos membros trabalhavam na agricultura, na fiação e na tecelagem. O advento da revolução industrial, entre os séculos XVIII e XIX, modifica radicalmente esta base. Mediante complexos mecanismos de reestruturação social surge, a partir da metade do século xix, uma forma de mentalidade e de estrutura familiar que se poderia denominar «burguesa» e que se torna em geral, o modelo a imitar. é um modelo de família nuclear, que assenta na distinção entre casa e local de trabalho, no domínio do marido-cabeça de casal, único produtor de rendimentos, e na delegação a´ mulher da gestão da vida doméstica e da educação dos filhos.

As ulteriores politicas reformadoras dos estados democráticos e as mudanças das estruturas económicas dev produção, de consumo e redistribuição do rendimento permitiram, por um lado, a redução da possibilidade por parte das famílias, de transmitir automaticamente honras, estatutos e riqueza ás gerações ulteriores, por outro lado, ao favorecerem o0 acesso das mulheres ao mundo do trabalho, permitiram tornar a estrutura familiar cada vez mais igualitária. A vida familiar foi substancialmente modificada pela consolidação de um complexo sistema assistencial e de previdência, que absorveu muitas das obrigações que os membros da família tinham entre si e com os seus parentes.

Em relação a´ relação marido- mulher

Uma das mudanças de maior alcance, ocorridas no ultimo quartel do século XIX nos países industrializados, foi o aumento da ocupação feminina. A ocupação de ambos os progenitores no mundo do trabalho pode também comportar tensões fortes na família. Marido e mulher são cada vez mais presas de um «conflito de identidade» na tentativa de desempenhar os seus papéis tradicionais; a crescente participação das mulheres no mundo do trabalho aumentou a pressão feminina para a conquista de um estatuto igual na família.

A relação pais- filhos- nas ultimas décadas também houve numerosa transformações nesta relação; os motivos de oposição são muitos, desde os mais banais ( a hora em que , á noite, se deve entrar em casa) ate aos mais substanciais( a escolha do parceiro matrimonial). As investigações realizadas no inicio dos anos 70 por Bowerman e Behr citados por Demartins descobriram que os adolescentes crescidos em famílias em que os quais têm influência e papéis bastante simétricos tendem a adoptar os valores e as opiniões dos progenitores. Tal, pelo contrário, não se verifica nas famílias em que o poder esta nas mãos de um só progenitor. Deste ponto de vista, os conflitos pais-filhos devem-se, aparentemente, mais a deficiências das famílias como agentes de socialização do que a influências sociais externas.

A crise da família baseada no casamento- nos últimos trinta anos do século vinte, manifestaram-se numerosos factores de mudança que, nos países ocidentais, originaram a crise do modelo tradicional de família conjugal. Segundo ANNA LAURA ZANATTA, há alguns fenómenos que dão testemunho de uma mudança global de mentalidade, de uma mudança cultural em curso que implica a estrutura familiar e que exprime, a afirmação de um pluralismo cada vez maior no seio da sociedade. A baixa do numero de património, o aumento das uniões de facto( aumento das convivências), das famílias unipessoais( composto por uma só pessoa), diminuição da natalidade, podem estar ligados, pelo menos em parte, à mudança da condição social da mulher e a consequente exigência por parte desta, de autonomia e de igualdade perante o homem. A mulher, em suma, tem cada vez menos necessidade do matrimónio para realizar a sua identidade e sente como cada vez mais construtivo o peso de uma difícil conciliação entre vida de trabalho e a vida familiar. além disso, o trabalho e consequente maior autonomia economia permitem ás mulheres um maior poder contratual dentro da família. este aspecto, se por um lado provoca tensões quanto ás exigências do parceiro - muitas vezes não disposto a abdicar dos privilégios que eram garantidos pela divisão tradicional dos papeis - por outro lado, dá ás mulheres a garantia económica considerada necessária para o divorcio possível.

O divorcio - outrora, o divorcio era considerado como uma sanção contra o cônjuge que se tinha maculado com alguma culpa. primeiramente, era concedido só em caso de adultério. No decurso dos anos 70, o sistema de divorcio sanção foi abandonado e substituído pelo de divorcio - fracasso. Para que um tribunal decrete hoje a ruptura de um matrimónio já não é necessária a culpa de um dos dois cônjuges: basta que entre marido e mulher haja diferenças «inconciliáveis» que tornam a convivência intolerável. porventura, a afirmação desta mentalidade deve-se ao reforça da autonomia individual no campo dos sentimentos e dos afectos, alem do das escolhas, que culminou na afirmação de uma amor romântico.

RASCUNHOS

Existe uma diversidade de modos de conceber e definir a família, devido a pelo menos duas causas, a primeira tem a ver com as diferenças culturais e de valor, a segunda com os níveis de discurso, isto é, não existe apenas a definição da família católica em vez da protestante ou muçulmana, no âmbito de um mesmo contexto social ou nacional, podem coexistir uma definição legal, uma administrativa, uma fiscal, para além de definições religiosas, e deferirem de um país para outro.

As transformações sociais atingem de maneiras diferentes as várias culturas e grupos. A industrialização não teve o mesmo efeito na familia urbana e rural, e

A família esteve presente ao longo de vários séculos muito antes da industrialização em várias regiões da Europa

Segundo estes autores, num primeiro tempo não é a família camponesa que se transforma, mas são alguns estratos rurais que vão para as cidades e se tornam proletários urbanos. Quem permanece no campo muito tempo mantém os seus modos de organização familiar, embora aumentando os casos de economia mista, com alguns membros a trabalharem na fábrica enquanto outros permanecem no campo. alteram-se certamente as relações familiares e geracionais, mudam as possibilidades de controlo familiar sobre a sua própria força de trabalho, mas muda, sobretudo a situação de classe de grupos sociais inteiros porque o próprio sistema de estratificação se altera. aquilo que se altera não é tanto a família camponesa, pelo menos no início, mas antes a composição social da população e a sua distribuição entre o campo e cidade.

Segundo Anderson (1977) citado por Seraceno e Naldini, o impacto da industrialização não foi de forma alguma linear, em algumas situação, a criação de um novo mercado de trabalho através do desenvolvimento da manufactura favoreceu a estabilização e até o alargamento da família, permitindo que os filhos permanecessem mais tempo em família sem precisarem de emigrar, contribuindo com o seu salário para as finanças familiares; favorecendo um uso estratégico da rede de parentes com fins não apenas de inserção no mercado de trabalho, mas também de acolhimento, habitação e uso comum de recursos

No comments: